segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O CIENTISTA NU ESPELHO poema poesia e filosofia



O CIENTISTA NU ESPELHO
Áureo João. Teresina, 14 de outubro de 2013

O Cientista é um ente
autocriado,
autocausado,
autodeclarado,
autodivinizado,
autoproclamado...
O Cientista,
se pensa...
se fecunda,
se pare,
se valida...
faz-se um ente de único gênero e espécie...
Fálico.
Por sua própria ciência e com esta só
e sua linguagem restrita, adoece e morre,
só...
O Cientista pensa...
que o mundo todo
e todo mundo
só existe
por causa de sua ciência apenas e
de sua prescrição doutoral.
O Cientista é escultor de si mesmo;
esculpe sua formosura e formatura;
talha sua matéria-prima, como criador e criatura.
Resultam belas esculturas e finas culturas.
Às vezes, não raro,
abestalhadas criaturas.
O Cientista é um devoto fervoroso.
Na sua trindade sagrada,
dogmática dura,
sua religião-ciência tem fé absurda.
Tradição, Método e Linguagem;
e uma comunidade fanática... Referenciada...
Crentes fanáticos em suas crenças,
os cientistas, aos muitos,
à semelhança de religiosos fundamentalistas,
nos tentam fazer crer como eles mesmos, em ismos e centrismos,
e nos aprisionar em suas correntes...
discípulos dos discípulos dos discípulos
e dos mestres que dominam suas cabeças...
nos perseguem pelas desobediências atrevidas, heresias e descrenças
No panteão da ciência-religião,
autores que se pensam deuses, outros divinizados;
livros sacralizados, teorias canonizadas;
academias-senzalas, adestramentos e açoites;
hierarquias, departamentalizações, citações;
rituais e normas, reificações,
valem mais que as vidas cotidianas manifestas...
apenas para os Cientistas mesmos; só.
Os cientistas inventaram
a Ciência e a Técnica,
o cronômetro mecânico,
os seus domínios sobre a Terra e os Oceanos,
e o estado elevado de sua Arte própria,
para nos livrar dos desígnios dos Deuses Todos,
da tentação do Diabo,
e das moradias do Céu e do Inferno,
Mas, agindo como se fossem Deuses e Diabos, padecem nas bestialidades de seus próprios eus apequenados. O inferno de si.
No currículo dos cientistas, há coisas que nos assustam:
Concorrências desnecessárias, às vezes desleais;
melindres, desafetos;
intrigas, ressentimentos;
estresses, muita pressa;
pressão, depressão, transtornos;
infartos; AVC;
aridez afetiva e espiritual,
apologia ao saber-poder;
solidão;
loucuras.
O Cientista fálico,
de razão e objetividade só,
adorador de sua trindade e do culto em si,
é um gênio tolo falador,
um idiotizado com dureza,
que não acha graça nos adornos e coisas simples da vida;
vive sem ternura;
uma besta que se acha culta e superior aos entes demais...
No plantel dos Cientistas,
autodivinizados,
abestalhados,
tolos,
idiotizados
bestas incultas,
há especiais criaturas.


Estas últimas criaturas são humanos que se sabem e nos sentem;
e sabem que sabem, e quando não sabem;
e sentem que sentem,
e intuem,
e poetam,
e riem livres,
e choram soltos,
e se encantam com os encantados,
e nos ensinam,
com ternura e adornos...
como homens, mulheres e pessoas...
e nos tornam melhores !!!...
São as nossas luzes... e nossos espelhos !!!

terça-feira, 1 de outubro de 2013

TEMPO poema poesia e filosofia



TEMPO
Áureo João. Teresina, 01 de outubro de 2013
aureojoao@yahoo.com.br

Há tempos
que a gente vive
sem tempo...
Porque a gente está preso
em um Templo
tempo,
fica sem o tempo...
Caminhando dentro do tempo
feito alhures e alheio,
não sabemos
andar sem o tempo feito
fora do tempo...
Há tempos
que a gente vive
sem o tempo,
fora do tempo.
Há tempos
Que a gente não tem tempo,
não vê o tempo
e não faz o tempo...
para auscultar nosso curso em nosso tempo, com tempo...
Há bons tempos sensíveis,
com cantos e com encantos,
que doutores das ciências do Ocidente,
desacordados das cordas que os oprimem,
não podem sequer notá-los... e se notarem...
Há tempos que embriagam vidas,
por vidas inteiras; e dão vidas...
Estes, as ciências duras e seus entes sem doçura
não podem anotá-los, nem prescrevê-los,
nem dominá-los, nem desfrutá-los,
porque lhes faltam tempo...
e a sabedoria para andar fora de seu tempo
linear... formal... mecânico... insensível...
Desatento
ao tempo
e à gente mesmo no tempo,
em pouco tempo se vai o tempo
e a gente com o tempo
e não haverá mais o tempo feito
e nem mais tempo para fazer...
Acabou-se
O tempo
Acabou-se
Também...
Mas a Mãe do Templo
em seu templo
há de nos conceder uma última voz ao vento,
antes de evaporar o sopro:
“Ah! se eu ainda tive tempo, eu faria o tempo... dentro e fora do tempo”
Acabou-se...
a doçura
não lhe serve...
o mel é fel.
Jaz-se...
Mas eu não jazerei em sua companhia...
porque eu ainda quero a doçura da vida e do mel...
e a embriaguez da vida, do vinho, do amor e da poesia...

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