quinta-feira, 19 de julho de 2012

VIVENDO DE MÁGICA - Don Piolho


VIVENDO DE MÁGICA
Don Piolho.

Em 2005, cheguei a São Paulo, depois de passar 28 dias em Goiás.
Sem moradia, arranjaram-me um barraco velho para morar;
O aluguel era baixo, embora morássemos no alto;
O pago de um dia era uma palavra “Bom Dia” todo dia;
Daí, comecei a fazer mágica.

Prá você saber,
De um pedaço de cano, fiz uma colher para comer;
De uma latinha de cerveja sem tampa,
cozinhava, eu, a mistura da janta.
Mesmo assim, eu estava contente,
sem namorada nem dor de dente.

Meu chulé ardia como fel;
As minhas meias, forrando, fiz com dois pedaços de papel;
De uma metálica canaleta,
fiz uma frigideira zambeta.
Era uma panela número um,
parecia com um carro de fórmula um.

Batizei-a de nave espacial,
pois cabia dois discos voadores de ovos e uma pitada de sal.
Como pia principal,
eu usava um vaso defecal;
a cama, onde eu dormia um sono gostoso,
tomei de um vira-lata teimoso.

Sinta a situação de coitado:
Minha porta era um madeirite empenado;
como fechadura,
um pedaço de arame que nunca dura;
a cama ficava na cozinha,
coisa de primeira linha.

A sala era também um depósito,
mas isso eu já nem me importo;
Tirando tudo isso,
Eu estou bem.

Nesse tempo aconteceu-me algo estranho:
passei sete dias sem tomar banho;
três ratos me acharam de estimação.
No barraco, tinha dois ratinhos e um ratão.
Você pode achar que eu estou mentindo,
mas isso me foi peça do destino, que eu sei!
Já passou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário