quinta-feira, 8 de novembro de 2012

POR UMA APROPRIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA NEGRA



POR UMA APROPRIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Cláudio R.Melo

         Chegamos em novembro, mais um novembro para alguns.Creio que acontecimentos como as eleições municipais e a demasiada atenção dispensada para este evento nos coloque a tarefa de repercutir que estamos em novembro. Dentre tantos dias temos o 20 de novembro. O que antes passava como um dia qualquer adquiriu significado de uma causa defendida pelo movimento negro no Brasil. Qual era? A de reverenciar a memória de Zumbi dos Palmares, maior liderança negra da nossa história. Mas essa reverência hoje adquire variadas conotações que vão desde a lembrança de zumbi, passando pela noção de que era preciso extrapolar para além da personalidade do líder. O passado tem uma conexão direta com o presente e vice-versa. Não existe separação aparente entre ambos. Daí  a necessidade de avançarmos para além do culto a memória e ao passado. Aprender sim, partir das lições que nos foram dadas e dar-lhes um significado.
         A consciência é um processo de abstrair fatos, acontecimentos e o que dar sentido a própria vida. É um “estar” no mundo. Consciência negra só existe se incorporamos a percepção de que se pode também construí-la dando-lhe significados. A memória tem importante papel nesse sentido por permitir acessar parte do passado e interpretá-lo a luz da nossa realidade. Consciência se forma e também é formada, só ela nos permitirá reverenciar a memória dentro de um processo de transformação daquilo que nos incomoda dentro de uma coletividade, pois eu só posso mudar alguma coisa se souber quem sou e o que quero.
         Consciência negra? Ainda temos muito que construí-la. Estamos ainda vivendo uma fase da história em que os direitos são contestados e não respeitados. Em que a naturalização da violência tem interrompido a caminhada de milhares de irmãos, sendo alguns desses atos motivados apenas pela intolerância à diferença e pela efetivação cada vez maior das desigualdades sociais existentes. Martin Luther King já dizia que a realidade não o impedia de sonhar com uma sociedade em que o caráter não estaria impregnado na cor da pele. Todos esperamos por isso, sem esquecer que é necessário ação construtiva. Que seja transformadora e até mesmo transgressora quando necessária.
         Para além da lembrança do dia 20 de novembro, temos a imensa tarefa de fomentar a construção dessa consciência negra em todos os locais por onde transitamos. Defender o que foi instituído via políticas públicas, assegurando o seu cumprimento e ampliação. Só uma sociedade que incorpora a atitude de defesa da diferença é capaz de compreender qual a verdadeira importância disso para todas as pessoas que a compôem indistintamente. Isso só acontece com a pactuação e a apropriação de um compromisso formal entre todos os sujeitos sociais. Acima de tudo, com consciência.

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