POR
UMA APROPRIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Cláudio R.Melo
Chegamos em novembro, mais um novembro para alguns.Creio que
acontecimentos como as eleições municipais e a demasiada atenção dispensada
para este evento nos coloque a tarefa de repercutir que estamos em novembro.
Dentre tantos dias temos o 20 de novembro. O que antes passava como um dia
qualquer adquiriu significado de uma causa defendida pelo movimento negro no
Brasil. Qual era? A de reverenciar a memória de Zumbi dos Palmares, maior
liderança negra da nossa história. Mas essa reverência hoje adquire variadas
conotações que vão desde a lembrança de zumbi, passando pela noção de que era
preciso extrapolar para além da personalidade do líder. O passado tem uma
conexão direta com o presente e vice-versa. Não existe separação aparente entre
ambos. Daí a necessidade de avançarmos
para além do culto a memória e ao passado. Aprender sim, partir das lições que
nos foram dadas e dar-lhes um significado.
A consciência é um processo de abstrair fatos, acontecimentos
e o que dar sentido a própria vida. É um “estar” no mundo. Consciência negra só
existe se incorporamos a percepção de que se pode também construí-la dando-lhe
significados. A memória tem importante papel nesse sentido por permitir acessar
parte do passado e interpretá-lo a luz da nossa realidade. Consciência se forma
e também é formada, só ela nos permitirá reverenciar a memória dentro de um
processo de transformação daquilo que nos incomoda dentro de uma coletividade, pois
eu só posso mudar alguma coisa se souber quem sou e o que quero.
Consciência negra? Ainda temos muito que construí-la. Estamos
ainda vivendo uma fase da história em que os direitos são contestados e não
respeitados. Em que a naturalização da violência tem interrompido a caminhada
de milhares de irmãos, sendo alguns desses atos motivados apenas pela
intolerância à diferença e pela efetivação cada vez maior das desigualdades sociais
existentes. Martin Luther King já dizia que a realidade não o impedia de sonhar
com uma sociedade em que o caráter não estaria impregnado na cor da pele. Todos
esperamos por isso, sem esquecer que é necessário ação construtiva. Que seja
transformadora e até mesmo transgressora quando necessária.
Para além da lembrança do dia 20 de novembro, temos a imensa
tarefa de fomentar a construção dessa consciência negra em todos os locais por
onde transitamos. Defender o que foi instituído via políticas públicas,
assegurando o seu cumprimento e ampliação. Só uma sociedade que incorpora a
atitude de defesa da diferença é capaz de compreender qual a verdadeira
importância disso para todas as pessoas que a compôem indistintamente. Isso só
acontece com a pactuação e a apropriação de um compromisso formal entre todos
os sujeitos sociais. Acima de tudo, com consciência.
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