segunda-feira, 12 de abril de 2010

ACADÊMICOS AMESTRADOS - Opinião, Crítica, desconstrução de um discurso

Acadêmicos amestrados
Por Idelber Avelar [Terça-Feira, 1 de Dezembro de 2009 às 15:31hs]




Se um marciano aterrisasse hoje no Brasil e se informasse pela Rede Globo e pelos três jornalões, seria difícil que nosso extra-terrestre escapasse da conclusão de que o maior filósofo brasileiro se chama Roberto Romano; que nosso grande cientista político é Bolívar Lamounier; que Marco Antonio Villa é o cume da historiografia nacional; que nossa maior antropóloga é Yvonne Maggie, e que o maior especialista em relações raciais é Demétrio Magnoli. Trata-se de outro monólogo que a mídia nos impõe com graus inauditos de desfaçatez: a mitologia do especialista convocado para validar as posições da própria mídia. Curiosamente, são sempre os mesmos.

Se você for acadêmico e quiser espaço na mídia brasileira, o processo é simples. Basta lançar-se numa cruzada contra as cotas raciais, escrever platitudes demonstrando que o racismo no Brasil não existe, construir sofismas que concluam que a política externa do Itamaraty é um desastre, armar gráficos pseudocientíficos provando que o Bolsa Família inibe a geração de empregos. Estará garantido o espaço, ainda que, como acadêmico, o seu histórico na disciplina seja bastante modesto.

Mesmo pessoas bem informadas pensaram, durante os anos 90, que o elogio ao neoliberalismo, à contenção do gasto público e à sanha privatizadora era uma unanimidade entre os economistas. Na economia, ao contrário das outras disciplinas, a mídia possuía um leque mais amplo de especialistas para avalizar sua ideologia. A força da voz dos especialistas foi considerável e criou um efeito de manada. Eles falavam em nome da racionalidade, da verdade científica, da inexorável matemática. A verdade, evidentemente, é que essa unanimidade jamais existiu. De Maria da Conceição Tavares a Joseph Stiglitz, uma série de economistas com obra reconhecida no mundo apontou o beco sem saída das políticas de liquidação do patrimônio público. Chris Harman, economista britânico de formação marxista, previu o atual colapso do mercado financeiro na época em que os especialistas da mídia repetiam a mesma fórmula neoliberal e pontificavam sobre a “morte de Marx”. Foi ridicularizado como dinossauro e até hoje não ouviu qualquer pedido de desculpas dos papagaios da cantilena do FMI.

Há uma razão pela qual não uso aspas na palavra especialistas ou nos títulos dos acadêmicos amestrados da mídia. Villa é historiador mesmo, Maggie é antropóloga de verdade, o título de filósofo de Roberto Romano foi conquistado com méritos. Não acho válido usar com eles a desqualificação que eles usam com os demais. No entanto, o fato indiscutível é que eles não são, nem de longe, os cumes das suas respectivas disciplinas no Brasil. Sua visibilidade foi conquistada a partir da própria mídia. Não é um reflexo de reconhecimento conquistado antes na universidade, a partir do qual os meios de comunicação os teriam buscado para opinar como autoridades. É um uso desonesto, feito pela mídia, da autoridade do diploma, convocado para validar uma opinião definida a priori. É lamentável que um acadêmico, cujo primeiro compromisso deveria ser com a busca da verdade, se preste a esse jogo. O prêmio é a visibilidade que a mídia pode emprestar – cada vez menor, diga-se de passagem. O preço é altíssimo: a perda da credibilidade.

O Brasil possui filósofos reconhecidos mundialmente, mas Roberto Romano não é um deles. Visite, em qualquer país, um colóquio sobre a obra de Espinosa, pensador singular do século XVII. É impensável que alguém ali não conheça Marilena Chauí, saudada nos quatro cantos do planeta pelo seu A Nervura do Real, obra de 941 páginas, acompanhada de outras 240 páginas de notas, que revoluciona a compreensão de Espinosa como filósofo da potência e da liberdade. Uma vez, num congresso, apresentei a um filósofo holandês uma seleção das coisas ditas sobre Marilena na mídia brasileira, especialmente na revista Veja. Tive que mostrar arquivos pdf para que o colega não me acusasse de mentiroso. Ele não conseguia entender como uma especialista desse quilate, admirada em todo o mundo, pudesse ser chamada de “vagabunda” pela revista semanal de maior circulação no seu próprio país.

Enquanto isso, Roberto Romano é apresentado como “o filósofo” pelo jornal O Globo, ao qual dá entrevistas em que acusa o blog da Petrobras de “terrorismo de Estado”. Terrorismo de Estado! Um blog! Está lá: O Globo, 10 de junho de 2009. Na época, matutei cá com meus botões: o que pensará uma vítima de terrorismo de Estado real – por exemplo, uma família palestina expulsa de seu lar, com o filho espancado por soldados israelenses – se lhe disséssemos que um filósofo qualifica como “terrorismo de Estado” a inauguração de um blog em que uma empresa pública reproduz as entrevistas com ela feitas pela mídia? É a esse triste papel que se prestam os acadêmicos amestrados, em troca de algumas migalhas de visibilidade.

A lambança mais patética aconteceu recentemente. Em artigo na Folha de São Paulo, Marco Antonio Villa qualificava a política externa do Itamaraty de “trapalhadas” e chamava Celso Amorim de “líder estudantil” e “cavalo de troia de bufões latino-americanos”. Poucos dias depois, a respeitadíssima revista Foreign Policy – que não tem nada de esquerdista – apresentava o que era, segundo ela, a chave do sucesso da política externa do governo Lula: Celso Amorim, o “melhor chanceler do mundo”, nas palavras da própria revista. Nenhum contraponto a Villa jamais foi publicado pela Folha.

Poucos países possuem um acervo acadêmico tão qualificado sobre relações raciais como o Brasil. Na mídia, os “especialistas” sobre isso – agora sim, com aspas – são Yvonne Maggie, antropóloga que depois de um único livro decidiu fazer uma carreira baseada exclusivamente no combate às cotas, e Demétrio Magnoli, o inacreditável geógrafo que, a partir da inexistência biológica das raças, conclui que o racismo deve ser algum tipo de miragem que só existe na cabeça dos negros e dos petistas.

Por isso, caro leitor, ao ver algum veículo de mídia apresentar um especialista, não deixe de fazer as perguntas indispensáveis: quem é ele? Qual é o seu cacife na disciplina? Por que está ali? Quais serão os outros pontos de vista existentes na mesma disciplina? Quantas vezes esses pontos de vista foram contemplados pelo mesmo veículo? No caso da mídia brasileira, as respostas a essas perguntas são verdadeiras vergonhas nacionais.


Essa matéria é parte integrante da edição impressa da Fórum de novembro/2009.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

UM CENÁRIO POLÍTICO E MUITOS PETISTAS NO GOVERNO DO PIAUÍ

QUANDO A FÁBULA SE CONFUNDE COM A REALIDADE,
É HORA DE ASSUNTAR O MUNDO !!!
Um olhar sobre o cenário político e muitos PeTistas no Governo.

Áureo João. 42 anos.
Teresina/PI, Domingo da Páscoa de 2010.
aureojoao@yahoo.com.br
http://www.aureojoao.blogspot.com/



Mas também, quando a sátira nos confunde na realidade social e política concretas, é chegada a hora de auscultar a si mesmo e ao mundo em que suas ações operam.

Para o caso desta crítica, tomemos em especial as ações institucionais, as políticas públicas, as condutas manifestas no tratamento das demandas que lhes desafiaram e as atitudes dos militantes PeTistas, no ambiente de Governo do Estado do Piauí, em um lance rápido de 2003 até agora.

Pois bem!!! Assunte:

- Cadê meu Cargo que estava aqui, até ontem?

- O Gato comeu...! Ou melhor, o Coelhinho da Páscoa comeu !!!

- Mas, cadê a “faca e o queijo” que estavam em minhas mãos até ontem e em poder de meu governo desde sete anos que já se passaram?

- A Raposa Velha comeu!!!

- Mas, cadê a Raposa Velha? Para onde ela foi? Onde ela está agora? Como e o que posso fazer para manter ou recuperar o Cargo, a faca, o queijo e minha mão? Onde tem uma garrucha para dar-lhe um tiro matador ou uma azagaia, foice e martelo, ou uma estrela – ainda que esta seja de algum xerife - para um golpe de misericórdia?

- A Raposa Velha, com sua astúcia, está dentro de seu território, de sua casa, deitada em suas redes e enlaçada com seus entes queridos, protegida sob a sombra da estrela distintiva do Xerife que era maior!!!

- Mas... Cadê a água da piscina e a água da praia, que eu banhava até ontem?

- O Boi bebeu!!! E a bebida que tinha no copo, também!

- É brincadeirinha...!!! É só uma fábula contada no dia primeiro de abril de 2010 – Dia da Mentira. E a traição da Raposa Velha é só um enredo de Semana Santa. Mas o roteiro foi escrito antes da quaresma!!!

Melhor seria pensar e estar seguro de que você não vai perder seu Cargo de Representação, Função ou Comissão e, junto, suas preocupações, tensões, problemas, demandas sociais correlatas e suas regalias de poder e finanças, a partir de um roteiro solene, apresentado no dia da mentira e no seio do retiro da semana santa. Melhor, ainda, seria testemunhar que a “faca e o queijo” que estiveram em suas mãos; e suas mãos - e o poder que isso representa – tenham sido gerenciados de forma digna e para o alcance dos direitos de muitos - a maioria de preferência -, já que o tempo pode ter sido pouco para contemplar a todos e a todas.

Ainda mais elevado será conferir que a missão que lhe foi posta gozara de um conjunto de cuidados, de um programa organizado de ações e tarefas, de profissionalismo, de conduta ética, de respeito e zelo aos usuários de seus serviços institucionais e, antes que a Raposa Velha materialize sua astuciosa obra completa, você tenha exercido a sabedoria de “dar conta do seu recado”, de fazer acontecer o que lhe foi posto para ser feito; que você tenha deixado o gesto de sua sabedoria como acréscimo à sabedoria de todos os homens e de todas as mulheres que compartilharam ou lhe confrontaram pela causa que seu Cargo proporcionou; que você tenha aprendido com a sabedoria dos aliados e dos contestadores que estiveram em seu caminho. Incontáveis PeTistas comportaram este perfil, por ocasião do exercício de seus cargos em nome do Governo do PT, no Piauí. Os efeitos de sua presença estão plasmados em situações políticas e sociais comprováveis por amigos, aliados, contestadores e inimigos.

Lamentável será o roteiro que nos obrigará a assuntar sobre suas contestáveis lamúrias, típicas daquelas pessoas do PT que passaram seu tempo de executivo – “com a faca e o queijo na mão; e as mãos abanando...; ou segurando a cabeça” - dedicando-se ao exclusivo exercício de bajular o Governador e Parlamentares, com o mero propósito de manter-se agarrado(a) no Cargo e regalias respectivas, enquanto o outro tempo que lhe restava ocupou-se apenas para fazer lamentação de “impossibilidades”, “dificuldades”, “falta de recursos”, “falta de condições”, bem como para inventar justificativas fajutas com o propósito de encobrir sua pouca criatividade, sua mediocridade política e profissional. Acrescente-se, a culpa que você atribuiu aos segmentos usuários de seus serviços como sendo responsáveis por seu inexpressivo desempenho, em discursos conhecidos e repetitivos do tipo: “falta projeto para ser atendido”; “não tem demanda”; “não nos enviou o ofício solicitando os recursos”; “ninguém me disse nada”; “eu já fiz minha parte, mas o outro emperrou”; “não dá”; “não pode”... e outras besteiras mentais e burocráticas, que nada serviram !!! Algumas pessoas do PT fizeram esse tipo de mrd. no Governo do Piauí, em instituições estatais públicas.

Em órgãos e autarquias federais, com sede no Piauí, também é possível testemunhar exemplos das duas categorias acima.

Os agravantes tomam forma nos casos em que os homens e as mulheres PeTistas, ao serem possuídos pelos poderes investidos em seus Cargos e Funções, esqueceram de dedicar continuada e atenciosa atenção política e institucional aos segmentos sociais, organizações informais, movimentos e entidades da sociedade civil que, antes do Cargo, eram suas referências e bases de sustentação política. Além disso, não poucos desprezaram a militância para o fortalecimento político do Partido dos Trabalhos e suas instâncias deliberativas.

Depois da combinação do enredo desta última semana santa e do último dia da mentira, uma parte de PeTistas detentores de Cargos executivos, provavelmente, terão novas preocupações, dores de cabeça aguda e incuráveis, depressões e muitas dívidas para prestar contas, consigo mesmo/mesma, se ainda for portador(a) de consciência nobre; mas também com a parcela da sociedade que esperava mais e melhor de suas ações e, sem dúvida, com fornecedores que lhes venderam adereços de vaidades e objetos de consumo, típicos daquelas listagens constantes em seus discursos dirigidos às elites consumistas de nosso País.

Nesta segunda-feira, dia 05 de abril de 2010, muitas personalidades Comissionadas retornarão às suas jornadas – após provável jejum e penitências forçadas -, com um ponto de pauta comum: a dúvida!!!. Muita gente boa não sabe, ao certo, como dantes sabia, com que dinheiro vai pagar a prestação do carro, a mensalidade escolar, o celular de última tecnologia, seus cartões de crédito etc. Muita gente, sem a escora do poder, andará à semelhança de acometidos por labirintite: tontos e desequilibrados, não sentirão a terra sob seus pés! Não saberão, ao certo, se ainda lhes restam Cargo ou algum poder! Uma pena que, dentre estas, estarão incomparáveis pessoas, que construíram o PT, sustentaram o Governo Petista e honraram seus postos de representação, função ou comissão, que lhes compensaram com regalias legais, prestígios e adequada moral.

Aos retardatários, é conveniente compreender que o poder – no exercício de cargos de Representação, Função ou Comissão - é como uma passagem numa pinguela estendida sobre um rio de piranhas. Quem dorme no ponto da distração!!!...

Quanto às astúcias da Raposa Velha, a Matriarca Guerreira Acotirene diz: “não se encante com o sorriso do inimigo. Isto pode-lhe fazer fracassar no combate”... e Zumbi conclui: “É isso que acontece com quem pensa que pode ser amigo do inimigo”. A emboscada do Vale do Cucaú se repete e muitos caem sob a mesma técnica da armadilha. (referências extraídas do filme Quilombo, de Cacá Diegues).

E você, no atual cenário, ainda se garante!!!

Mas o número do PT tem um significado mágico. O número 13 representa o recomeço, já que é o número do sistema organizado e do término. Este número é o símbolo do determinado e particular, associado à finalização (benéfica). (...) Representa a chave do conjunto fechado (acabado, finalizado). É temido, pois tem a força de gerar algo bom ou ruim. Para os judeus, o 13 indica a evolução ou o destino (em direção da morte ou destruição, visto que este é um numero limitado, fazendo com que "todos os esforços sejam interrompidos"). Também é considerado um número marginal, que foge à regra, pois está relacionado com a iniciação. O 13 representa a eterna escalada de Sísifo com o rochedo em direção ao alto da montanha. No Tarot, o número 13 está associado à lâmina do Tarot - A Morte e é considerada uma das mais intrigantes cartas do Tarot. O número 13 é negativo e fatalista para alguns; para outros, é um número de sorte. Sugere transformação, renovação e transmutação. Esta carta não significa necessariamente uma mudança negativa. Pode estar ligada a fatos agradáveis: casamento, nascimento, mudança para outro país. Mas é quase sempre o fim de uma antiga forma de vida (http://www.terra.com.br/esoterico/monica/colunas/2006/01/13/001.htm; acesso em 04.04.2010).

Nas cartas da política e da medição de forças, a militância PeTista – em estado de hibernação há sete anos –, em querendo manter-se sob o abrigo partidário, vai ter que sair da toca, antes que as raposas e os lobos lhe comam as carnes e as inteligências que ainda contam na reserva.

...Ou vai ficar esperando que Wilson Martins e João Vicente Claudino lhe carreguem no colo???

- Cadê meu Partido que estava aqui até um dia desses?

sexta-feira, 2 de abril de 2010

O BUMERANGUE NÃO VOLTOU - ironia política sobre a renúncia do Governador Wellington Dias

O BUMERANGUE NÃO VOLTOU


Áureo João. 42 anos.

Teresina – PI, 02 de abril de 2010.

aureojoao@yahoo.com.br

WWW.aureojoao.blogspot.com

Criado para voltar à mão do arremessador e jamais para escapar ao seu controle, quando o resultado acontece diferente nós podemos considerar que estamos diante de uma contradição de sabedorias.


Penso que essa sabedoria pode ser utilizada, ainda que em mera analogia, para refletirmos sobre o episódio “Wellington Dias e o Partido dos Trabalhadores”.


No primeiro degrau, a questão consiste em compreendermos e delimitarmos: o PT criou o político Wellington Dias ou o político Wellington Dias “se autocriou” por dentro do PT? Se mergulharmos numa discussão dialética ou filosófica muito sofisticada, esta questão não terá um desfecho acabado e determinado. Mas meu exercício é ingênuo, não me exige esforço dialético. Por esta escolha do método e da conduta, a infantilidade que me cabe permite-me uma resposta à moda das crianças. Eu diria que o PT criou o político Wellington Dias – Governador do Estado do Piauí até o dia 1º de abril -, ao emprestar seu nome, sua história, suas referências teóricas, suas experienciações de lutas e combates, seu respaldo organizacional e institucional, sua solidariedade e, inclusive, a falta desta última por vezes.


O Partido dos Trabalhadores foi o arremessador do político Wellington Dias na atmosfera da política partidária e eleitoral, para o fim de ocupar espaços institucionais mediados por disputas em ambientes de correlações de forças (internas e externas) nunca fixas e estagnadas; nunca fáceis. Assim como o criador do bumerangue, o PT pensou que poderia arremessar sua Criação/Criatura e que esta jamais escaparia ao seu controle. Ledo engano.


Wellington Dias, diferente do objeto bumerangue, detém criatividade própria, múltiplas inteligências autônomas e arbítrio singular. Qualquer comparação deste objeto com este ser humano é um exercício grosseiro de nossa intelectualidade.


No entanto, a invenção de nossa linguagem figurativa, permite simular em nossa imaginação o episódio em que o objeto bumerangue - criado para voltar à mão do arremessador e jamais para escapar ao seu controle – é protagonista de uma cena inusitada, pois estando em pleno voo e em elevada atmosfera previsível, sob a propulsão da força de seu criador e arremessador, parece (mesmo que apenas pareça) surpreender sua base de lançamento e, em seu plano de voo particular, nunca mais retorna às mãos de seu lançador. Resta-lhe o consolo de dizer que aquele era seu objeto, sua criação e o registro histórico incluindo a frase “meu bumerangue se foi e nunca mais voltou”.


Com semelhante linguagem figurativa e dita “infantil” ou, ainda, da mais apropriável grosseria, parece cabível ao PT dizer que o bumerangue escapou do controle e nunca mais vai voltar às suas mãos. Entenda-se, aqui, o poder – a governabilidade – o prestígio – a credibilidade – a confiança – a representação classista, mas também o político Wellington Dias.


Igualmente a uma criança, o homem W. Dias, por ocasião do ato solene de transferência da faixa de Governador ao político Wilson Martins – nesta quinta-feira, 01 de abril de 2010, chorou um choro de criança, autênico, sincero, transparente, chorado ao modo de quem sente um tipo de dor; provavelmente, a dor de sua escolha ao modo pessoal. Mas em seu plano de voo político, o alívio lhe será concedido com uma cadeira no Senado Federal, cujo consolo também nos confortaria a todas as pessoas piauienses que confiaram no PT.


Muitos PeTistas também choraram seu choro doído, escondido, envergonhado, decepcionado, preocupado; embaraçado; engasgado. Para algumas pessoas, eu imagino que o choro pareceu com aquele choro entoado por ocasião da morte da Deputada Francisca Trindade, num gesto de indignação e impotência perante aquele fenômeno da morte ou “destino”, que levou uma figura humana, uma personalidade política, mas também uma presença do PT e uma representação de força eleitoral competitiva para a disputa institucional do Governo, seja no pleito para o comando do Executivo do Estado, seja para o Executivo da Prefeitura de Teresina. Nesta última hipótese, possível que fosse nossa Prefeita atual. O que há de semelhante no comparativo desses dois episódios é a sensação de perda; de falta de capacidade para controlar a situação.


Eu também chorei meu choro particular; choro que só a alma sabe chorar; choro que só a consciência é capaz de penetrar seus significados; mas foi um choro assuntado e assuntando. No entanto, minha atitude veio ao modo típico e costumeiro das crianças, ao passo que me imaginei diante da candidatura do político Wellington Dias ao Senado Federal e podendo-lhe dizer “eu não gosto mais de tu”, ou seja, “eu não vou votar em W. Dias para o mandato de Senador/2010”. Dizendo de outra maneira, eu não tenho condição nem inteligência política para alcançar a lógica que norteou os discursos e as decisões de W. Dias em toda essa trajetória que culminou com sua renúnica na data de ontem, selada com a entrega do poder.


Muitas mulheres e muitos homens piauienses, PeTista e não-petistas, podem estar formando uma grande teia de sentimentos (ou de ressentimentos) e de vozes, constituindo um imensurável coral vestindo a letra “eu não gosto mais tu” Wellington Dias. Nesta hipótese, a cadeira do Senado Federal pode vir a se comportar, em relação ao candidato Wellington Dias e ao PT, com a mesma conduta incontrolável do bumerangue acima citado. Isto corresponde a chegar ao final das apurações das eleições de 2010 e, então, chegar a vez de Wellington Dias dizer, à semelhança do diálogo com o bumerangue: “minha cadeira do Senado Federal se foi e nunca mais vai voltar”. Só o espírito infantil tem a liberdade de pensar assim!


Neste momento, eu não me arriscaria a fazer nenhum julgamento condenatório do ser humano Wellington Dias e daqueles que lhe acompanharam e lhe orientaram ou lhe acataram, inclusive no período da semana-santa, acolhida sob a religião cristã, onde julgar e condenar o outro está posto como sendo uma conduta “errada”, reprovável ou, pelo menos, desencorajada. Porém, se o gesto do político W. Dias for assimilado, no meio dos mesmos populares religiosos, como sendo uma “traição”, comparado ao papel de Judas, não podemos ignorar o impacto que isso pode causar-lhe, especialmente nas eleições de 2010.


Mas, separada da sabedoria da Religião, as sabedorias da Política tem suas regras próprias e dinâmicas. Logo, utilizando o mesmo critério da recusa ao julgamento e condenação precipitados, eu me arriscaria a dizer que estamos em um cenário onde mais de um tipo de sabedoria está em movimentação. Dizendo de outro modo, há quem compreenda e defenda, racionalmente, e sob o modo de fazer a engenharia política no Estado do Piauí, que Wellington Dias e seus pários realizaram a melhor escolha. É possível que essa sabedoria política seja defensável, do ponto de vista dos sábios que a inventaram e a implementaram. Penso que nós não podemos duvidar disso, nem desprezá-los por suas sabedorias manifestas e escolhas assumidas.


Analisando o mesmo problema de outro ponto de vista, também poderemos compreender que, além dos políticos detentores de mandatos, agregadores de votos e cientistas políticos, outros milhares de seres humanos tomam atitudes, seja sob medidas da consciência política elevada, seja por simples gestos comparados às reações emocionais das crianças: “eu não gosto mais tu” Wellington Dias.


Nós, adultos, dotados de sabedorias e de maturidade incoparáveis às crianças, não raro, já fomos derrotados diante de reações de crianças que, usando a sabedoria infantil própria da dita criancisse, confrontaram-nos e nos disseram “eu não gosto mais tu” Wellington Dias.


Por fim, esta reflexão é para dizer aos grandes sábios e mandatários do PT e do Governo do PT que, em sendo deste Partido dos Trabalhadores, é arriscado demais duvidar deste último tipo de inteligência, porque esta inteligência política não se utiliza da Ciência Política, não deve obediência aos acordos político-partidários e nem exige de si que esteja agindo politicamente correto, mas apenas reage ao seu modo próprio. Representa um encontro de contradições de sabedorias.


Sob esta última lógica, eu perguntaria – de modo simbólico -: quem está com o controle sobre o bumerangue? Em que mãos ele vai está sob comando?


O Partido dos Trabalhadores e Wellington Dias não devem duvidar da capacidade de reação de nós outros.

E VOCÊ, VAI DUVIDAR???