sexta-feira, 2 de abril de 2010

O BUMERANGUE NÃO VOLTOU - ironia política sobre a renúncia do Governador Wellington Dias

O BUMERANGUE NÃO VOLTOU


Áureo João. 42 anos.

Teresina – PI, 02 de abril de 2010.

aureojoao@yahoo.com.br

WWW.aureojoao.blogspot.com

Criado para voltar à mão do arremessador e jamais para escapar ao seu controle, quando o resultado acontece diferente nós podemos considerar que estamos diante de uma contradição de sabedorias.


Penso que essa sabedoria pode ser utilizada, ainda que em mera analogia, para refletirmos sobre o episódio “Wellington Dias e o Partido dos Trabalhadores”.


No primeiro degrau, a questão consiste em compreendermos e delimitarmos: o PT criou o político Wellington Dias ou o político Wellington Dias “se autocriou” por dentro do PT? Se mergulharmos numa discussão dialética ou filosófica muito sofisticada, esta questão não terá um desfecho acabado e determinado. Mas meu exercício é ingênuo, não me exige esforço dialético. Por esta escolha do método e da conduta, a infantilidade que me cabe permite-me uma resposta à moda das crianças. Eu diria que o PT criou o político Wellington Dias – Governador do Estado do Piauí até o dia 1º de abril -, ao emprestar seu nome, sua história, suas referências teóricas, suas experienciações de lutas e combates, seu respaldo organizacional e institucional, sua solidariedade e, inclusive, a falta desta última por vezes.


O Partido dos Trabalhadores foi o arremessador do político Wellington Dias na atmosfera da política partidária e eleitoral, para o fim de ocupar espaços institucionais mediados por disputas em ambientes de correlações de forças (internas e externas) nunca fixas e estagnadas; nunca fáceis. Assim como o criador do bumerangue, o PT pensou que poderia arremessar sua Criação/Criatura e que esta jamais escaparia ao seu controle. Ledo engano.


Wellington Dias, diferente do objeto bumerangue, detém criatividade própria, múltiplas inteligências autônomas e arbítrio singular. Qualquer comparação deste objeto com este ser humano é um exercício grosseiro de nossa intelectualidade.


No entanto, a invenção de nossa linguagem figurativa, permite simular em nossa imaginação o episódio em que o objeto bumerangue - criado para voltar à mão do arremessador e jamais para escapar ao seu controle – é protagonista de uma cena inusitada, pois estando em pleno voo e em elevada atmosfera previsível, sob a propulsão da força de seu criador e arremessador, parece (mesmo que apenas pareça) surpreender sua base de lançamento e, em seu plano de voo particular, nunca mais retorna às mãos de seu lançador. Resta-lhe o consolo de dizer que aquele era seu objeto, sua criação e o registro histórico incluindo a frase “meu bumerangue se foi e nunca mais voltou”.


Com semelhante linguagem figurativa e dita “infantil” ou, ainda, da mais apropriável grosseria, parece cabível ao PT dizer que o bumerangue escapou do controle e nunca mais vai voltar às suas mãos. Entenda-se, aqui, o poder – a governabilidade – o prestígio – a credibilidade – a confiança – a representação classista, mas também o político Wellington Dias.


Igualmente a uma criança, o homem W. Dias, por ocasião do ato solene de transferência da faixa de Governador ao político Wilson Martins – nesta quinta-feira, 01 de abril de 2010, chorou um choro de criança, autênico, sincero, transparente, chorado ao modo de quem sente um tipo de dor; provavelmente, a dor de sua escolha ao modo pessoal. Mas em seu plano de voo político, o alívio lhe será concedido com uma cadeira no Senado Federal, cujo consolo também nos confortaria a todas as pessoas piauienses que confiaram no PT.


Muitos PeTistas também choraram seu choro doído, escondido, envergonhado, decepcionado, preocupado; embaraçado; engasgado. Para algumas pessoas, eu imagino que o choro pareceu com aquele choro entoado por ocasião da morte da Deputada Francisca Trindade, num gesto de indignação e impotência perante aquele fenômeno da morte ou “destino”, que levou uma figura humana, uma personalidade política, mas também uma presença do PT e uma representação de força eleitoral competitiva para a disputa institucional do Governo, seja no pleito para o comando do Executivo do Estado, seja para o Executivo da Prefeitura de Teresina. Nesta última hipótese, possível que fosse nossa Prefeita atual. O que há de semelhante no comparativo desses dois episódios é a sensação de perda; de falta de capacidade para controlar a situação.


Eu também chorei meu choro particular; choro que só a alma sabe chorar; choro que só a consciência é capaz de penetrar seus significados; mas foi um choro assuntado e assuntando. No entanto, minha atitude veio ao modo típico e costumeiro das crianças, ao passo que me imaginei diante da candidatura do político Wellington Dias ao Senado Federal e podendo-lhe dizer “eu não gosto mais de tu”, ou seja, “eu não vou votar em W. Dias para o mandato de Senador/2010”. Dizendo de outra maneira, eu não tenho condição nem inteligência política para alcançar a lógica que norteou os discursos e as decisões de W. Dias em toda essa trajetória que culminou com sua renúnica na data de ontem, selada com a entrega do poder.


Muitas mulheres e muitos homens piauienses, PeTista e não-petistas, podem estar formando uma grande teia de sentimentos (ou de ressentimentos) e de vozes, constituindo um imensurável coral vestindo a letra “eu não gosto mais tu” Wellington Dias. Nesta hipótese, a cadeira do Senado Federal pode vir a se comportar, em relação ao candidato Wellington Dias e ao PT, com a mesma conduta incontrolável do bumerangue acima citado. Isto corresponde a chegar ao final das apurações das eleições de 2010 e, então, chegar a vez de Wellington Dias dizer, à semelhança do diálogo com o bumerangue: “minha cadeira do Senado Federal se foi e nunca mais vai voltar”. Só o espírito infantil tem a liberdade de pensar assim!


Neste momento, eu não me arriscaria a fazer nenhum julgamento condenatório do ser humano Wellington Dias e daqueles que lhe acompanharam e lhe orientaram ou lhe acataram, inclusive no período da semana-santa, acolhida sob a religião cristã, onde julgar e condenar o outro está posto como sendo uma conduta “errada”, reprovável ou, pelo menos, desencorajada. Porém, se o gesto do político W. Dias for assimilado, no meio dos mesmos populares religiosos, como sendo uma “traição”, comparado ao papel de Judas, não podemos ignorar o impacto que isso pode causar-lhe, especialmente nas eleições de 2010.


Mas, separada da sabedoria da Religião, as sabedorias da Política tem suas regras próprias e dinâmicas. Logo, utilizando o mesmo critério da recusa ao julgamento e condenação precipitados, eu me arriscaria a dizer que estamos em um cenário onde mais de um tipo de sabedoria está em movimentação. Dizendo de outro modo, há quem compreenda e defenda, racionalmente, e sob o modo de fazer a engenharia política no Estado do Piauí, que Wellington Dias e seus pários realizaram a melhor escolha. É possível que essa sabedoria política seja defensável, do ponto de vista dos sábios que a inventaram e a implementaram. Penso que nós não podemos duvidar disso, nem desprezá-los por suas sabedorias manifestas e escolhas assumidas.


Analisando o mesmo problema de outro ponto de vista, também poderemos compreender que, além dos políticos detentores de mandatos, agregadores de votos e cientistas políticos, outros milhares de seres humanos tomam atitudes, seja sob medidas da consciência política elevada, seja por simples gestos comparados às reações emocionais das crianças: “eu não gosto mais tu” Wellington Dias.


Nós, adultos, dotados de sabedorias e de maturidade incoparáveis às crianças, não raro, já fomos derrotados diante de reações de crianças que, usando a sabedoria infantil própria da dita criancisse, confrontaram-nos e nos disseram “eu não gosto mais tu” Wellington Dias.


Por fim, esta reflexão é para dizer aos grandes sábios e mandatários do PT e do Governo do PT que, em sendo deste Partido dos Trabalhadores, é arriscado demais duvidar deste último tipo de inteligência, porque esta inteligência política não se utiliza da Ciência Política, não deve obediência aos acordos político-partidários e nem exige de si que esteja agindo politicamente correto, mas apenas reage ao seu modo próprio. Representa um encontro de contradições de sabedorias.


Sob esta última lógica, eu perguntaria – de modo simbólico -: quem está com o controle sobre o bumerangue? Em que mãos ele vai está sob comando?


O Partido dos Trabalhadores e Wellington Dias não devem duvidar da capacidade de reação de nós outros.

E VOCÊ, VAI DUVIDAR???

2 comentários:

  1. Olá, Áureo João!

    Pois é, eu sou uma que está de mal com o Governador (Ex).

    Agora que estou estudando sobre violência...Hanna Arendt (1970) diz que “a forma extrema do poder resume-se em Todos contra Um, e a extrema forma de violência é Um contra Todos”. Sendo assim, estamos aí diante de uma conduta de violência extrema contra a coletividade.

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  2. comcordo contigo irmão,é uma pena que o partido não estar atento a este pensamento seu!
    porque se não tomaria uma descissão: domar de fato os rumos bumerengue.

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